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Resultados corporativos indicam cautela na expansão

Resultados corporativos indicam cautela na expansão

16/08/2025 - 04:01
Felipe Moraes
Resultados corporativos indicam cautela na expansão

O primeiro trimestre de 2025 trouxe surpresas positivas para o cenário corporativo brasileiro, mas evidenciou também a necessidade de ponderação antes de se lançar em novos projetos de expansão. Apesar de lucros e receitas acima das expectativas, as pressões de custos e as incertezas macroeconômicas reforçam uma postura de análise criteriosa.

Panorama geral do 1T25

A temporada de resultados do 1T25 superou as projeções iniciais, mesmo em meio a preocupações com custos elevados e margem comprimida. Em levantamento do Valor Data com 387 empresas não financeiras, o lucro líquido consolidado subiu 30,3%, atingindo R$ 57,2 bilhões, enquanto as receitas somaram R$ 976,7 bilhões, avanço de 13,9%.

No entanto, os custos de vendas e serviços cresceram 14,8%, totalizando R$ 728,4 bilhões. Esse movimento revela pressão de custos e margens apertadas, indicando que o ambiente para expansão requer cautela extra, já que ganhos de receita não se traduzem em aumento proporcional de rentabilidade.

  • Crescimento de 13,9% na receita total;
  • Elevação de 14,8% nos custos consolidados;
  • Lucro líquido 30,3% acima do 1T24.

Indicadores e desempenho por setores

Os dados de casas de análise mostram diferenças relevantes entre as companhias. Segundo XP Investimentos, de cerca de 160 empresas sob cobertura:

  • 32% superaram estimativas de receita;
  • 26% ficaram abaixo das projeções;
  • 42% apresentaram performance em linha com o consenso.

Em termos de EBITDA, 33% superaram expectativa, 55% ficaram em linha e 12% ficaram abaixo. Já para lucro líquido, 51% superaram as projeções, 23% ficaram em linha e 26% abaixo. Dentro da carteira do Santander, registrou-se alta de 14% na receita líquida, 9% no EBITDA e 12% no lucro líquido em relação ao 1T24.

Enquanto empresas voltadas ao mercado interno mantiveram desempenho sólido, a taxa de crescimento do EBITDA desacelerou de 16% no 4T24 para 12% no 1T25. No segmento de commodities, a recuperação é perceptível, mas as teleconferências de resultados incorporaram termos como “incerteza” e “desaceleração” com maior frequência.

O setor exportador, beneficiado por fluxos de capitais estrangeiros — R$ 28,7 bilhões até maio — e pela recuperação de demanda global, apresentou performance alinhada à média dos mercados internacionais, com o Ibovespa rendendo 7,5% em reais e 10,7% em dólares entre abril e maio.

Cautela na expansão corporativa

Apesar dos números positivos, o ambiente de custos elevados e incertezas reforça a estratégia de priorizar eficiência interna e otimização de recursos em detrimento de aquisições ou investimentos arriscados. O crescimento de margens operacionais e ganhos de produtividade têm sido os principais motores do lucro, mais do que o aumento robusto de receitas.

Empresas líderes de mercado adotam processos de reavaliação de portfólio, revisão de contratos e renegociação de fornecedores para conter o avanço dos custos. A avaliação criteriosa de novos investimentos passa a ser regra em boardrooms, onde cada projeto é submetido a análises de cenário detalhadas.

Cenário global e perspectivas futuras

No âmbito externo, o ambiente de juros ainda elevados em economias avançadas e a volatilidade cambial contribuem para a sensação de incerteza. Setores exportadores apontam melhora de demanda, mas reconhecem riscos ligados a gargalos logísticos e tensões geopolíticas.

Para analistas, a temporada de resultados veio acima das expectativas baixas — apenas 8% dos gestores previam um trimestre positivo, enquanto 29% não esperavam mudanças significativas.

Para os próximos trimestres, a recomendação é de seletividade no portfólio de investimentos e diversificação de riscos, equilibrando posicionamentos em segmentos defensivos e em nichos com maior potencial de recuperação global.

Ranking de Negócios em Expansão 2025

A edição 2025 do anuário "Negócios em Expansão", da Exame em parceria com o BTG Pactual, selecionará 470 empresas com receita líquida operacional anual entre R$ 2 milhões e R$ 600 milhões. O critério central é o aumento de faturamento em 2023 e 2024, com base em demonstrações contábeis auditadas.

O ranking valoriza trajetórias de crescimento sólido, mas carrega a mensagem de que a expansão sustentável exige bases consolidadas. Empresas que apostam em processos robustos de governança e inovação tendem a se destacar, mesmo em um contexto mais cauteloso.

Conclusão

O 1T25 mostrou que é possível obter resultados positivos mesmo em cenário de custos elevados e incertezas macro. No entanto, a ênfase recai sobre a eficiência operacional, a gestão rigorosa de custos e a análise criteriosa de novos investimentos.

O mercado sinaliza que a fase de expansão desenfreada ficou para trás, dando lugar a uma abordagem mais ponderada, em que cada passo é medido, cada projeto é avaliado sob múltiplos cenários e a solidez das estruturas internas passa a ser o principal diferencial para o sucesso corporativo em 2025.

Felipe Moraes

Sobre o Autor: Felipe Moraes

Felipe Moraes, 36 anos, é colunista no inteligentes.org, especializado em planejamento financeiro, crédito pessoal e estratégias de investimentos acessíveis.