O primeiro trimestre de 2025 trouxe surpresas positivas para o cenário corporativo brasileiro, mas evidenciou também a necessidade de ponderação antes de se lançar em novos projetos de expansão. Apesar de lucros e receitas acima das expectativas, as pressões de custos e as incertezas macroeconômicas reforçam uma postura de análise criteriosa.
A temporada de resultados do 1T25 superou as projeções iniciais, mesmo em meio a preocupações com custos elevados e margem comprimida. Em levantamento do Valor Data com 387 empresas não financeiras, o lucro líquido consolidado subiu 30,3%, atingindo R$ 57,2 bilhões, enquanto as receitas somaram R$ 976,7 bilhões, avanço de 13,9%.
No entanto, os custos de vendas e serviços cresceram 14,8%, totalizando R$ 728,4 bilhões. Esse movimento revela pressão de custos e margens apertadas, indicando que o ambiente para expansão requer cautela extra, já que ganhos de receita não se traduzem em aumento proporcional de rentabilidade.
Os dados de casas de análise mostram diferenças relevantes entre as companhias. Segundo XP Investimentos, de cerca de 160 empresas sob cobertura:
Em termos de EBITDA, 33% superaram expectativa, 55% ficaram em linha e 12% ficaram abaixo. Já para lucro líquido, 51% superaram as projeções, 23% ficaram em linha e 26% abaixo. Dentro da carteira do Santander, registrou-se alta de 14% na receita líquida, 9% no EBITDA e 12% no lucro líquido em relação ao 1T24.
Enquanto empresas voltadas ao mercado interno mantiveram desempenho sólido, a taxa de crescimento do EBITDA desacelerou de 16% no 4T24 para 12% no 1T25. No segmento de commodities, a recuperação é perceptível, mas as teleconferências de resultados incorporaram termos como “incerteza” e “desaceleração” com maior frequência.
O setor exportador, beneficiado por fluxos de capitais estrangeiros — R$ 28,7 bilhões até maio — e pela recuperação de demanda global, apresentou performance alinhada à média dos mercados internacionais, com o Ibovespa rendendo 7,5% em reais e 10,7% em dólares entre abril e maio.
Apesar dos números positivos, o ambiente de custos elevados e incertezas reforça a estratégia de priorizar eficiência interna e otimização de recursos em detrimento de aquisições ou investimentos arriscados. O crescimento de margens operacionais e ganhos de produtividade têm sido os principais motores do lucro, mais do que o aumento robusto de receitas.
Empresas líderes de mercado adotam processos de reavaliação de portfólio, revisão de contratos e renegociação de fornecedores para conter o avanço dos custos. A avaliação criteriosa de novos investimentos passa a ser regra em boardrooms, onde cada projeto é submetido a análises de cenário detalhadas.
No âmbito externo, o ambiente de juros ainda elevados em economias avançadas e a volatilidade cambial contribuem para a sensação de incerteza. Setores exportadores apontam melhora de demanda, mas reconhecem riscos ligados a gargalos logísticos e tensões geopolíticas.
Para analistas, a temporada de resultados veio acima das expectativas baixas — apenas 8% dos gestores previam um trimestre positivo, enquanto 29% não esperavam mudanças significativas.
Para os próximos trimestres, a recomendação é de seletividade no portfólio de investimentos e diversificação de riscos, equilibrando posicionamentos em segmentos defensivos e em nichos com maior potencial de recuperação global.
A edição 2025 do anuário "Negócios em Expansão", da Exame em parceria com o BTG Pactual, selecionará 470 empresas com receita líquida operacional anual entre R$ 2 milhões e R$ 600 milhões. O critério central é o aumento de faturamento em 2023 e 2024, com base em demonstrações contábeis auditadas.
O ranking valoriza trajetórias de crescimento sólido, mas carrega a mensagem de que a expansão sustentável exige bases consolidadas. Empresas que apostam em processos robustos de governança e inovação tendem a se destacar, mesmo em um contexto mais cauteloso.
O 1T25 mostrou que é possível obter resultados positivos mesmo em cenário de custos elevados e incertezas macro. No entanto, a ênfase recai sobre a eficiência operacional, a gestão rigorosa de custos e a análise criteriosa de novos investimentos.
O mercado sinaliza que a fase de expansão desenfreada ficou para trás, dando lugar a uma abordagem mais ponderada, em que cada passo é medido, cada projeto é avaliado sob múltiplos cenários e a solidez das estruturas internas passa a ser o principal diferencial para o sucesso corporativo em 2025.
Referências