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Expectativas eleitorais já afetam preço dos ativos

Expectativas eleitorais já afetam preço dos ativos

19/07/2025 - 18:35
Felipe Moraes
Expectativas eleitorais já afetam preço dos ativos

Em meio a mais de 20 meses de antecipação eleitoral, operadores e investidores brasileiros já sentem o peso das projeções para 2026 no comportamento dos ativos financeiros. Esta análise aprofunda os principais fatores que impulsionam essa volatilidade crescente no mercado e oferece insights para quem busca decisões mais embasadas e estratégias eficazes de investimento.

Antecipação do “trade eleitoral” no Brasil

O debate em torno das eleições de 2026 ganhou força no primeiro semestre de 2025, quando pesquisas apontaram uma queda acentuada na popularidade do presidente Lula. Em mercados que normalmente se aquecem apenas próximo ao pleito, já vemos movimentos significativos no câmbio e na renda fixa.

Essa antecipação do “trade eleitoral” está associada à percepção de que eventuais mudanças de rumo fiscal e alterações no programa de governo podem alterar substancialmente o prêmio de risco do Brasil, influenciando desde a Selic até a valorização da bolsa.

Impacto da popularidade presidencial em ativos financeiros

Pesquisas como as do Datafolha mostraram reduções expressivas no índice de aprovação do governo, fomentando especulações sobre possíveis ajustes populistas ou planos de austeridade. Essas oscilações na confiança política se traduzem em:

  • Oscilações diárias no dólar, com picos de volatilidade superiores aos registrados em meses anteriores.
  • Ações domésticas negociadas a múltiplos abaixo da média histórica, demonstrando desconto em valuation.
  • Aumento do rendimento exigido pelos investidores em títulos públicos, refletindo o temor de desequilíbrios fiscais.

Desdobramentos fiscais e consequências para juros

Em resposta à crescente instabilidade política, o governo já estuda medidas para ampliar benefícios sociais e concessões para setores críticos. No entanto, há riscos de um aumento expressivo do déficit primário caso não haja contrapartidas fiscais.

A ata recente do Copom deixou claro que, sem sinais mais concretos de ajuste nas contas públicas, a taxa Selic permanecerá em níveis elevados até o próximo ano eleitoral, impactando o custo de crédito e o consumo.

Estratégias de investidores diante da volatilidade

Especialistas recomendam cautela, destacando que as melhores oportunidades podem surgir justamente nos momentos de maior incerteza. Entre as principais táticas, destacam-se:

  • Diversificação inteligente de carteiras, associando renda fixa indexada à inflação a ações de empresas exportadoras.
  • Proteção cambial parcial por meio de fundos multiativos ou derivativos.
  • Exposição moderada a papéis de setores regulados, menos sensíveis a choques de confiança.

No entanto, investidores devem evitar apostas concentradas em um único cenário eleitoral, dado que os candidatos e programas ainda não estão definidos.

Ações governamentais com foco em 2026

Para angariar apoio popular, o Executivo avalia alterações na reforma do Imposto de Renda, expansão do programa Minha Casa Minha Vida e até propostas de gratuidade de tarifas de energia. Embora tais medidas possam gerar alívio pontual, elas pressionam o orçamento e elevam incertezas sobre a sustentabilidade fiscal.

O Congresso, por sua vez, já tem Brasília imersa em discussões eleitorais, desviando o foco de reformas estruturais de longo prazo.

Comparação entre expectativas nacionais e internacionais

O mercado brasileiro não atua isolado. A alta do preço do petróleo e a proximidade das eleições nos EUA reforçam a sensação de uma temporada global de instabilidade política. Investidores estrangeiros, acostumados ao cenário norte-americano, comparam:

  • Performance de ações emergentes versus desenvolvidas nos períodos pré-eleitorais.
  • Reação dos rendimentos de títulos públicos em economias com ajustes fiscais antecipados.

Em geral, o Brasil tende a superar outros mercados emergentes quando o barril de petróleo valoriza, mas permanece vulnerável a choques domésticos.

Oportunidades na bolsa e prêmios de risco

Apesar dos riscos, a bolsa brasileira opera cerca de 28% abaixo da média de valuation dos últimos dez anos, criando janelas de entrada atraentes para investidores com horizonte de médio e longo prazo.

Um possível corte de juros a partir de abril de 2026, projetado pelo UBS, pode servir de catalisador para valorização, mas dependerá do equilíbrio fiscal que se estabelecer até lá.

Limitações e riscos dessa aposta eleitoral

Mesmo as análises mais otimistas reconhecem um elevado grau de incerteza. As principais vulnerabilidades incluem:

Portanto, quem busca ganhos expressivos deve estar preparado para resistir a perdas pontuais e ajustar posições rapidamente.

Considerações finais

As eleições de 2026 já moldam o humor dos mercados brasileiros, demonstrando que, em economia, o tempo político nem sempre coincide com o calendário eleitoral oficial. Saber interpretar sinais antecipados das pesquisas e manter disciplina na gestão de riscos são fatores-chave para navegar neste ambiente turbulento.

Enquanto não houver confirmação das candidaturas e clareza sobre o ajuste fiscal, a volatilidade e o prêmio de risco do Brasil devem permanecer elevados. Ainda assim, oportunidades pontuais podem surgir para quem aliar análise técnica e macroeconômica a uma visão estratégica de médio prazo.

Felipe Moraes

Sobre o Autor: Felipe Moraes

Felipe Moraes, 36 anos, é colunista no inteligentes.org, especializado em planejamento financeiro, crédito pessoal e estratégias de investimentos acessíveis.