Vivemos um momento de urgência em repensar os modelos estabelecidos e compreender como a dinâmicas econômicas em escala global estão sendo transformadas. A retração dos fluxos internacionais exige reflexão sobre o futuro financeiro coletivo e as estratégias que nações e investidores devem adotar.
Nas últimas três décadas, a globalização se caracterizou por intensos avanços em processos produtivos globais, impulsionados por melhorias em transporte, comunicações e tecnologia da informação. Esse movimento gerou aumento no comércio internacional, maior integração financeira e notáveis reduções de pobreza em diversas regiões.
Por outro lado, efeitos colaterais como concentração de renda e desigualdade também emergiram, exigindo soluções que equilibrem crescimento e equidade. A desglobalização, por sua vez, representa uma reversão parcial desse cenário, marcada pela queda nos fluxos de bens, serviços, pessoas e capital.
Eventos emblemáticos como a crise financeira de 2007-08, políticas de protecionismo comercial e tarifário crescente e o impacto da pandemia de Covid-19 aceleraram esse movimento. O resultado foi um ambiente econômico mais fragmentado e uma forte reconfiguração das cadeias globais de valor.
Nos últimos anos, indicadores do Banco Mundial e da UNCTAD apontam para uma queda significativa no investimento direto estrangeiro (IDE) global. Fatores geopolíticos, sanitários e protecionistas reordenam prioridades e movem capitais para operações mais próximas de seus mercados domésticos.
Além desses números, chama atenção o fato de economias emergentes especialmente vulneráveis sofrerem com volatilidade e falta de proteção jurídica a investimentos internacionais, ampliando riscos em cenários de menor liquidez.
O processo de desglobalização redefine a forma como o capital se locomove, trazendo consequências profundas para empresas, governos e mercados financeiros.
No Brasil, apesar dos avanços na participação em investimentos globais, a dependência de capitais externos deixa o país exposto a choques repentinos. A ausência de acordos sólidos de proteção de investimentos amplia essa vulnerabilidade.
Em Portugal, o declínio nos influxos e refluxos de IDE desde 2008 reflete não apenas crises globais, mas também desafios estruturais internos, como a urgência em modernizar setores produtivos e legislação de incentivos.
Em economias desenvolvidas, políticas protecionistas e revisão de tratados bilaterais alteram o padrão multilateral, impulsionando segurança econômica nacional frente a crises e, muitas vezes, priorizando eficiência política sobre eficiência de mercado.
A desglobalização não afeta apenas transações comerciais; impacta variáveis macroeconômicas centrais e o desenho de políticas públicas.
O cenário que se desenha sugere um mundo mais fragmentado, em que a regionalização de mercados ganha protagonismo. Países precisarão balancear eficiência com segurança, adotando modelos híbridos de integração seletiva.
Investidores e gestores devem reforçar a análise de riscos geopolíticos e aprimorar mecanismos de proteção. A inovação em tecnologia e sustentabilidade poderá ser a chave para capturar oportunidades em cadeias reestruturadas.
Para governos, o desafio será criar um ambiente atrativo para capitais produtivos, fortalecendo instituições e acordos que ofereçam confiança a longo prazo. Somente assim poderemos transformar os desafios da desglobalização em pontes para um novo “normal” econômico mais justo e resiliente.
Referências